segunda-feira, julho 05, 2010

A Marsans

Há notícias que enervam mais do que outras. Raramente me fazem sorrir. Parece que perdemos o hábito de noticiar qualquer coisa que não entre na galeria do insuportável. Ou será que o "happy end" não vende jornais? Deve ser isso.
Lia esta notícia e tentava colocar-me nos lugar dos burlados. Fiquei logo a ferver.
Burlados sim. Isto não é uma falência normal. É um roubo.
A Marsans decidiu fechar todas as lojas em Portugal mas, em vez de tentar honrar os últimos compromissos com os clientes, fez exactamente o contrário. Tentou sacar o máximo possível de cada um e depois fechou portas. Ponto final.
Podemos agora filosofar aqui três dias seguidos, mas não estou com paciência.
Pensemos apenas naquele desgraçado, que trabalhou 12 horas por dia numa ano da mais dura crise económica, e que poupou com algum esforço o dinheiro suficiente para estar 15 dias de molho em Cancun. Em 24h vê todo esse esforço ir por água abaixo. Nem viagem, nem dinheiro.
Agora pode apresentar queixa na Deco, na associação das agências de viagens ou nos tribunais. Deve ser um processo bem simples como se adivinha...
Mas...e as férias? E o descanso? Desapareceram.
Mas como? Como é que é possível? Estamos por acaso numa terra sem lei? Uma empresa espanhola decide encerrar as suas agências em Portugal sacando o máximo possível de cada cliente no último minuto. Rouba as pessoas e o seu director geral foge para Espanha. E então? Qual é o problema? Não estamos numa zona económica comum? A Marsans não continua a operar em Espanha? Não existem leis europeias que se aplicam a todos? Não há nenhum muro em Badajoz que eu saiba. Deixará o nosso governo, que até tem uma excelente relação com o governo espanhol, que uma empresa espanhola roube milhares de clientes portugueses à luz do dia?
Meus amigos...andamos a brincar aos países de certeza! Se o governo espanhol impedir que a Marsans opere em Espanha, aposto que os clientes portugueses estão no dia seguinte em primeira classe para Havana. E as 30 lojas em Portugal? Foram vendidas a outro grupo? Não...nada disso. O nosso governo mete a mão, vende as lojas e o material informático e devolve o dinheiro aos lesados. É assim que se defende o pagador de impostos e se combate a trafulhice.
Por favor...já somos roubados por políticos que trocam contratos públicos por lugares de CEO, por bancos que prometem juros em esquemas D. Branca, por investimentos públicos a fundo perdido que servem para tudo menos para desenvolver, por uma carga fiscal semelhante à dos países nórdicos, por contratos ruinosos de obras públicas com derrapagens orçamentais que fazem corar de vergonha o mais corrupto dos ditadores africanos, por tribunais que condenam quem denuncia a corrupção e não o corruptor, por ajudas financeiras para a Madeira na ordem do "vamos salvar o Haiti" e ainda temos que ser gamados por agências de viagens??
Não estaremos já a roçar o "faroeste"?
Temos leis ou não? Estamos inseridos numa zona europeia sem fronteiras ou não? Mas afinal que merda é esta?
Há alguém, entre quem governa, que se preocupe ainda com o bem estar de quem vota e paga impostos, ou este assunto será mais um atirado para a pilha do "é a vida..." e ponto final no tema?
Até quando temos que ter saco e paciência para aguentar tudo?

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