Seguindo uma dica de um amigo vi o "plano-inclinado"do Mário Crespo, com o Medina Carreira, João Duque e o convidado, Ernâni Lopes. Sumidades da economia ou de qualquer coisa parecida.
Não sabia da existência deste programa e habitualmente não tenho paciência para ler ou ouvir o Mário Crespo, mas com tantos ilustres na mesa, resolvi abrir uma excepção no "já estou farto de ouvir falar na crise" e vi o programa.
Confesso que fiquei, uma vez mais, surpreendido com tanta banalidade que se diz com ar de quem acaba de descobrir a pólvora. Esperava ouvir ideias e medidas concretas, vá...opiniões, de como combater a crise que se instalou em Portugal. Espremido, espremido, o que a sumidade convidada disse, depois de apresentar uma tabela e dois diagramas de blocos foi: "vamos ser dinamarqueses!"
Explico. A ideia central é a mentalidade e atitude dos portugueses. A educação que nós, em casa, estamos a dar à futura geração. A economia é feita por pessoas. O PIB é o resultado do desempenho de pessoas e esse desempenho será tanto melhor, quanto menos "baldas" for cada pessoa. Explicava por isso este professor que o PIB é influenciado pela educação que cada um de nós dá aos seus filhos em casa. Faz sentido, claro. Uma geração de xicos-espertos terá menor probabilidade de sucesso sustentado do que uma geração de gente competente e honesta. Tudo certo. Continuava Ernâni Lopes, dizendo que, seja qual for o pacote de austeridade, não há taxa de juro que resista se continuarmos a ser um país de aldrabões. Devemos ser mais rigorosos, mais cultos, mais informados, mais civilizados, com melhor formação escolar, mais competentes, mais trabalhadores, olhar para a excelência do desempenho, ter honra. Ou seja...as medidas de combate à crise podem funcionar se por acaso 3 ou 4 milhões de dinamarqueses e noruegueses se mudarem para o Alentejo.
Nada do que Ernâni Lopes disse é mentira e o programa até devia ser exibido em cada escola deste país, mas não passa de senso comum. O que eu gostava de ouvir da boca de um economista, e especialmente num programa onde se procuram soluções reais para um problema real, é como é que podemos sair deste buraco com os 11 milhões de portugueses, brasileiros, africanos e ucranianos que vivem no rectângulo. Ideias concretas, sugestões, caminhos. Que a vida com escandinavos é mais suave já eu sei, mas não ajuda entre Bragança e Faro.
Há no entanto uma ideia, não desenvolvida, que pode ser importante para sair do buraco e essa é, perceber se Portugal tem a capacidade de se "situar" no seu mercado de excelência entre o Brasil e a África lusófona. Leio aqui e ali que o Brasil pagou a sua dívida externa...talvez seja o parceiro que dá jeito para esta hora de aperto.
Uma medida concreta para sair da crise é a reforma da administração pública e do Estado social. Todos sabemos isso e é tão óbvia como canela no pastel. Chegamos a um ponto em que já nem podemos explicar porque é que estamos falidos e não conseguimos suportar, sem recorrer a dinheiro emprestado, as prestações sociais. A torneira secou e como não reduzimos custos suavemente ao longo das décadas, teremos que o fazer agora em clima de guerra. Isto claro, partindo do princípio que já perceberam que aumentar os impostos da classe média e continuar com a mesma despesa pública, não é uma solução de futuro...
É tempo de cortar a direito. Doa a quem doer. A começar por cima claro...banca, gestores públicos, paraísos fiscais, institutos públicos "repetidos" e por aí fora. Para o fim, espero eu, devem ficar as misérias pagas a quem não tem emprego.
Começar a meter na prisão quem comete crimes também seria uma boa ideia para "acalmar" a corrupção que limpa os cofres do Estado.
Haja coragem para fazer em poucos anos o que não se fez em décadas.
E até lá, arrumem o power point e a filosofia de pacote por favor. Antes a vuvuzela.
1 comentário:
É certo que têm razão no que dizem, mas não nos dão nada que nós não saibamos e não sentimos já.
Enquanto continuarmos a assistir a roubos descarados, aos buracos e derrapagens nas obras públicas e os tribunais a assobiar para o lado e ninguém ser penalizado por isso, como é que há moral para exigir mais sacrifícios a quem sempre se sacrificou?
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