terça-feira, maio 12, 2009

Quando a cultura traz cotão

Entrada para o fim-de-semana.
Mesa multicultural.
Algumas cervejas e discussão política animada.
Europeus e africanos discutindo realidades distintas e modelos sociais.
A conversa agradava-me.
Sem saber como o assunto foi parar ao banho.
Pareceu-me má ideia.
Mas eles avancaram.
Um dos africanos explicava orgulhosamente que só tomava dois banhos por semana.
"Dois?"
"Sim, habituei o meu corpo a essa quantidade de banhos."
"Habituaste?"
"Sim. Não trabalho nas obras, estou sentado em frente a um computador, porquê tomar banho?E não cheiro mal. Eu sei que não cheiro mal."
"Mas já perguntaste a alguém?"
"Eu sei que não cheiro. Lavo o sovaco todas as manhãs!"
"Bom...assim já me parece bem mais espectacular."
Por curiosidade e percebendo que era o único estupefacto, resolvi perguntar ao outro africano.
"E tu?"
"Quatro vezes por semana. Mais uma se for ao ginásio."
"É por isso que estragas a pele!", diz o outro africano.
Continuei com o inquérito e passei aos suecos.
"E vocês?"
"Dia sim, dia não. No inverno não suo muito."
"E vocês lá no sul?"
"Bem, nós no sul deixámos de tomar 2 banhos por semana a partir do séc.XIX. O cheiro incomodava e os franceses quando nos tentaram invadir não trouxeram perfumes para a troca!"
Comeca o burburinho na mesa...
"Pois já tinha ouvido dizer que se lavavam mais no sul".
"Um amigo meu tinha uma namorada italiana e teve que comecar a tomar banho todos os dias senão..."
"Eu quando estava na escola tinha que tomar todos os dias porque me sentava entre duas raparigas e..."
Achei melhor interromper com a questão que se impunha.
"Nunca vos passou pela cabeca, pelo menos em adultos, ir ao duche só porque sim? Pelo cheiro a lavado? Pela aquela sensacão boa de ausência de cola?"
Pelos olhares de espanto percebi que não.
Por outro lado, estava ali explicado, preto no branco, porque é que muitos dos meus colegas cheiram a refugado às 9 da manhã.
E o mais incrível é que o ser javardo é aceite como uma diferenca cultural.
É assim e está tudo bem.
Cheira a cebola no tacho com azeite?
Cheira sim senhor.
Mas é fashion.
Pergunto-me, quem terá sido o génio que mudou de assunto?

3 comentários:

sandra dias disse...

Palavras para quê?!

Carolina. disse...

Só mesmo tu, para, mais uma vez, me colocares um sorriso rasgado nos lábios. Obrigada por alegrares estes dia cinzentos que passo sentada a resolver problemas. Os teus relatos são qualquer coisa...
Beijocas.

Unknown disse...

Não pude deixar de me rir...
Fiz erasmus na Eslováquia e às vezes os autocarros apinhados de gente de braço no ar logo às 7h30 da manhã eram um verdadeiro suplício para o olfacto...
É mm uma questão cultural..lol..