sexta-feira, setembro 29, 2006

Os suspeitos do costume

Trollhättan, foto J.Franco

Redefinindo o conceito de "atrasado" (quase que conseguia "vencer" o meu colega que dá 1 passo para a frente e 2 para trás e que normalmente aparece 2 horas depois dos outros...) fiz o caminho para o trabalho envolto no verde magnífico da paisagem e com um sol esplendoroso a realçar o azul do céu. A plenos pulmões cantei cada uma das 17 músicas que compõem o álbum "Nesta Cidade" dos Xutos, na sua vertente mais acústica. Cheguei aqui com a boa disposição que caracteriza uma sexta-feira, elevada ao expoente neperiano. Gosto dos Xutos, gosto mesmo. Não é que os ache brilhantes músicos, não é que individualmente me encham as medidas, mas no conjunto formam um poço de inesgotável energia. Há muito, muito tempo atrás (algures em 85), lembro-me de na ilha de Sta. Maria ir a casa de um recém-chegado colega do meu pai. Vinha fresco da cidade (Lisboa) e trazia com ele os ventos da moda. Na altura, já passada a fase "banda sonora do Dartacão a 33 rotações", vagueava algures pelos êxitos dos Ministars (nunca Onda Choc...não eram "cool"). "Maria Madalena, you're the preacher of the night" e refrões do género, faziam as minhas delícias de então. Na referida casa desse colega, "fui apresentado" a dois LP's (tenho saudades do vinil confesso!) de uma banda com poucos anos de estrada, os Xutos. Chamavam-se "Ao vivo no Rock Rendez Vouz" (onde apresentaram alguns temas entre outras bandas) e "1978-1982" o primeiro álbum de originais. O meu pai fez o favor de os gravar em K-7 (daquelas de 90 min) que passados 20 anos ainda existem, algures no meu espólio. Não percebia o conteúdo das letras, nessa altura de carácter mais social e de intervenção, mas os refrões agradavam-me e para desgosto do coro Santo Amaro de Oeiras, tive que colocar de lado os Ministars. Os álbuns seguintes ("Circo de Feras" e "88") apareceram lá em casa a pedido, numa das deslocações do meu pai a Lisboa. Representaram a "explosão" nacional da banda e para mim, a confirmação de uma sonoridade que me agradava. Os anos passaram e cada um dos álbuns foi religiosamente comprado (mesmo aqueles que acho muito fracos), porque os Xutos já estão para mim como o James Bond. Mesmo que nem sempre goste, fazem parte da minha vida. Não me lembro de um ano onde não os visse ao vivo pelo menos uma vez (até porque fazem parte do cartaz vitalício do Avante!!). Como diz o Rui a propósito do assunto: "Ah, vais ver os Xutos e aquele recente sucesso, o "Circo de Feras"? É um facto que as melhores músicas e álbuns já têm quase duas décadas, mas continuo a ter prazer quando as ouço. Se pensar um pouco....a voz do Tim é um pouco difícil de "encaixar", o Kalú tem energia e pouco mais, o Zé Pedro fala muito e não toca nada, o João Cabeleira toca muito e simplesmente não fala (o Gui é normal :)), mas depois em palco, resultam em algo contagiante e que vai atravessando gerações. Claro que não os acho melhores com a idade. A qualidade tende a piorar e o Tim parece querer "azeitar" a solo. Aquele primeiro álbum do "queria ser astronauta e blá, blá" até me deu pena. Timóteo, tem mas é juízo e escreve um Circo de Feras 2 para o Rui ir comigo a um concerto. Vinha a pensar nisto tudo enquanto conduzia e ouvia aquela malta a percorrer temas escritos ao longo de 25 anos. Não me lembro quantos concertos vi, mas guardo com particular saudade o acústico no Tivoli, onde gravaram este mesmo álbum (lembras-te Rita L. ?), o primeiro RiR com o Tiago, o que serviu de base ao DVD há 2 anos no Pav.Atlântico com o Ricardo e o primeiro, o primeirinho de todos, no final da década de 80 no festival Maré de Agosto. Nesse e com a ajuda do Henrique Mariante, que sempre esteve nas "entranhas" do festival, consegui ir aos bastidores e ver a minha t-shirt autografada pelos 5 membros da banda. Um deles, o Kalú, até me pediu para segurar a cerveja enquanto assinava o "pau da bateria" (desculpa lá Rui...não sei se se chama baqueta, ou baquete, ou baguete, ou seja lá o que for...). Não só tinha um ídolo da altura bem perto, como estava a cheirar cerveja pela primeira vez na vida. Anos mais tarde o meu pai disse-me: "aquela t-shirt estava muito amarela e foi para a máquina"...que desgosto (diria "Meu Deus" se acreditasse) senti. As assinaturas ficaram mais claras, mas não desapareceram...menos mal. Poucas bandas/músicos em Portugal atravessam gerações (em vida) como os Xutos têm feito (lembro-me do S.Godinho, R.Veloso...) e apesar de não olhar para eles como o fazia em miudo, ainda gosto de quando em vez de abrir o baú e ouvir uns "clássicos". Tudo é verde, o sol radia, o corpo não sente frio, é sexta-feira e ouvi xutos. Estou contente, estou mesmo bem disposto. No caminho de regresso o boliviano vai gramar com o álbum inteirinho...aposto que vai adorar!

4 comentários:

Vivian disse...

Mas há alguém que não gosta de xutos?

catarina disse...

;) há dias assim ou quê?:) para mim, os xutos serao sempre uma espécie de mistério indecifrável: nao fazem parte do tipo de música que habitualmente ouco - nao melodicamente e muito menos poeticamente - mas têm algo de genuinamente verdadeiro (sim, eu sei que é um pleonasmo) e conseguem sempre por-me a saltar...
"A carga pronta metida nos contentores
Adeus aos meus amores que me vou
P'ra outro mundo
É uma escolha que se faz
O passado foi lá atrás"
...:)

PS: quanto ao teu comentário no meu blog... coleguinha, temos pena mas eu perguntei primeiro:) ou nao lês o teu mail?:)

Tiago Franco disse...

Por acaso é raro ir ao Hotmail :(
Ligo mais ao que tenho aqui no trabalho (tiago.franco-contractor@se.saab.com), embora indique o da Hotmail no blogue...

Sandrinha disse...

Os Xutos estão sempres presentes na minha vida! Hoje por exemplo:

"Dia de são receber!!"

;o)