segunda-feira, setembro 11, 2006

O meu 11 de Setembro

Muito antes da História marcar este dia de forma tão negativa, já a data em si tinha para mim um significado forte. Mas feliz, entenda-se.
Hoje passam exactamente 79 anos desde o nascimento da minha "Vóvó". É para mim uma pessoa marcante, que representa coragem, determinação e vontade. Costumo imaginar a vida como uma sucessão de bifurcações. Em cada ponto de decisão, opta-se. Algures olhamos para trás e vemos o caminho que fomos traçando. Na minha opinião, numa dessas bifurcações a minha avó optou por um caminho que alterou o rumo da minha família. Primeiro o do meu pai e por arrasto o meu. Sinto-a como alguém que abriu uma porta, que lutou todos os dias da sua vida e que nunca, em fase alguma deixou de estender uma mão.
Sem querer ofender, magoar ou ferir susceptibilidades, a verdade é que sinto por ela um laço único, de quem com ela passou grande parte dos seus primeiros 8 anos de vida. A esmagadora maioria das minha recordações até atingir a 3ª classe, estão pintadas num quadro onde a minha avó é a actriz principal. Não o faço de propósito, é apenas o que a minha memória me traz.
Lembro-me de ir para casa dela, no velhinho prédio da Academia Almadense, enrolado numa manta ao colo do meu pai. Lembro-me de esperar que ela chegasse do trabalho, imaginando que boneco de enfeitar os bolos me traria da pastelaria onde trabalhava, lembro-me de dormirmos no chão porque "era bom para as costas".
Nunca fomos católicos, mas diz-me sempre que lhe telefono que reza por mim. Agora que penso nisso, acho que a minha educação "católica" começou com ela. A uma das minhas infinitas perguntas (tipo: Deus existe?), costumava responder: "Não...nós não acreditamos em nada disso. Mas não se goza...não se goza...nunca se sabe!!". Serviu.
Pede-me sempre que seja poupado e que "olhe pela vida", para nunca ter que pedir nada a ninguém. Ah...e que vista um casaco, porque ela vê na tv as pessoas na neve com casacos grandes!!
De vez em quando mostra-me com algum orgulho uma carta de amor que escrevi na 1ª classe. Certamente não seria amor, certamente as palavras não farão qualquer sentido, mas a verdade é que a minha avó a guarda como um pequeno tesouro. Trocamos sempre uns sorrisos, quando a revemos juntos.
Em segredo já me pediu para passar o nome Franco para um futuro descendente. Tendo eu 3 nomes de família, quer garantir que o dela se perpetua em gerações futuras. Assim será.
Nós, os Franco, somos de lágrima fácil. É rara a vez que a minha avó não se despede de mim em lágrimas. Veja-me no dia, mês ou ano seguinte. É assim, simplesmente assim. Há um laço forte, que os anos não mudam e que a distância não altera. Adoro a minha avó.
Já usas corsários e ténis vermelhos, não será altura de teres e-mail para eu te escrever? Enquanto esse dia não chega, espero que o meu pai te faça chegar estas palavras.
Hoje quando te telefonei disseste: "Claro que estou bem! Estou viva, não havia de estar feliz?"

Se soubesses como sorri ao ouvir-te!
Um beijinho muito grande.
Parabéns!

Tiago

4 comentários:

Marco Aurélio disse...

Tiago

Parabéns para sua avó. Mudando de assunto, Acho que os Ianques deviam se lembrar também dos mortos do Vietnã, Iraque, da Nicarágua, e de outras matanças que eles promoveram. Sem falar nos regimes ditatoriais que se instalaram na América Latina com o apóio do Tio Sam. O número de vítimas foi bem mais elevado do que a dos atentados as torres gêmeas. De qualquer jeito sempre os inocentes é que morrem, como no caso do WTC.

Um abraço

Marco Aurélio

Vivian disse...

Que bonito...Faz-me logo lembrar a minha granny!

Totoia disse...

A recordação mais doce que tenho da minha infância é a do meu avô, infelizmente já não está entre nós... logo agora que tinha tanta coisa para lhe contar!!

Goza bem a tua!!

Tiago Franco disse...

Sim, tento dentro do que a distância me permite :)
Obrigado pela visita :)