Quando era miúdo (para não começar com "Era uma vez..."), o pequeno-almoço era A refeição lá de casa. Não é que a actividade gástrica não se repetisse noutros horários, mas O pequeno-almoço ao fim de semana, era o que eu preferia.
Muitas vezes queixava-me de ser muito cedo, afinal ao meio dia ainda eu procurava a cabeça perdida algures entre Santos e o Bairro Alto na noite anterior. Queixava-me porque o leite tinha natas, queixava-me porque o queijo tinha coisas verdes, queixava-me por tudo e mais alguma coisa embalado pelo sono.
A mesa tinha sempre uma enorme variedade de coisas. Quando hoje em dia penso nisso, até tenho vergonha de ter aberto a boca para falar mal...mas enfim, idiotices de quem nunca tinha usado uma gillette (não é que agora use muito, mas essa é outra história).
O meu pai dizia então: "Ainda vão ter saudades..."
E tinha razão. Mais do que a refeição, era todo aquele debate de ideias que me fascinava, embora só mais tarde o tivesse percebido. Hoje em dia e já sem sono, continuo a achar que aquele queijo com bolas verdes não é bom...nestas coisas sou muito simples e não há como o bom e velho queijo de batata (flamengo).
Serve isto para puxar a brasa a uma recorrente discussão e a um tema que nunca se esgota. Há quem defenda que os EUA funcionam como uma espécie de ditadura. Não será bem assim na minha opinião, mas parece-me que não têm a noção exacta de tudo o que se passa no mundo. Só passei por aqueles lados uma vez na minha vida e poucas referências ao exterior (nas televisões) me lembro de ter visto.
Eu não sei se a informação chega ao americanos "modificada" ou se simplesmente não chega (será isto possível nos dias de hoje com a internet completamente aberta?). Contudo, fico com a sensação que de vez em quando se faz "engenharia nos media", de forma a condicionar a opinião pública.
Ocultar, esconder ou alterar informação é uma forma de reduzir e condicionar a liberdade, o que contraria os pregões de moral e bons costumes defendidos pelos sucessivos governos norte-americanos.
Este tipo de práticas era comum nalguns regimes comunistas tão duramente criticados. Assim de repente, lembro-me de um exemplar do Gramma (jornal oficial do governo Cubano) que guardei por achar piada, tal era a manipulação exercida. Nesse jornal apenas apareciam notícias fantásticas de Cuba e da Venezuela. Galinha que pôs ovos gigantes, encontro de velhos em Havana com mais do que 100 anos, medalha de ouro para o desportista X, pessoas muito contentes com o Chavez em Caracas e por aí fora. No resto do mundo era a revolta dos mineiros na Bolívia, cancro em Londres, morte nos EUA e tudo do mais negro que se possa pintar.
Eu achei aquilo irreal demais para ser verdade e não resisti a comprar o jornal (que é escrito em várias línguas, incluíndo português). Mas quer dizer, o regime Cubano limita os acessos à internet, não deixa os habitantes saírem de Cuba a não ser que alguém pague por isso e fazem o possível para que os cubanos pensem que vivem num paraíso. Não vivem é um facto, mas estão longe do inferno que a ignorância ilustra para muitos no resto do mundo.
Pediram a vários americanos para identificarem geográficamente onde ficava o Irão. Todos diziam (com a boca cheia de hamburgueres) que eram terroristas e toca de invadir, mandar bombas e toda essa mística do faroeste, mas quando lhes pediram para apontar no mapa a zona onde estavam os "maus", indicaram a Austrália.
Eu sei que um povo com tamanha mistura de raças, credos e religiões, não se pode rotular como um só. Também acho que alguma imprensa europeia nos faz chegar o que de pior se vê do outro lado do oceano, mas continuo a acreditar que na sua maioria, os norte-americanos não sabem o mundo que os rodeia e muito menos o que pensa deles.
Fiquei espantado com as capas da "Newsweek". Isto é "cosmética popular" do mais básico que possa existir.
Já sei que não são como os cubanos, já sei que podem viajar...mas saberão que existe mundo para lá do texas?
2 comentários:
A primeira coisa que eles devem aprender é que a América é que é boa, lá é tudo melhor!
Até podem saber que existe mundo para lá do texas... mas não é nada melhor que a America, por isso não é importante!
O Nico (Nicolas Machado) é um sobrinho meu nascido nos Estados Unidos, com quem privei durante o mês de Agosto na Ilha de Santa Maria em gozo de férias. Apesar de ser americano, tem uma grande dose de cultura portuguesa, o que lhe permite analisar o que se passa nos States duma forma mais alargada e com muitos termos de comparação. Segundo ele, o americano médio é muito ignorante. Vive bombardeado a toda a hora com concursos de televisão, desporto e filmes de acção onde não é preciso pensar muito.
Não estão muito virados para os debates culturais ou políticos. O forte deles é tudo o que se relaciona com o entretenimento, acompanhado de cerveja, pipocas, pizza, etc.
O NIco recorre muitas vezes à RTPI para aprofundar notícias do mundo pois os canais americanos, por vezes, abordam os mesmos temas muito pela rama.
Contou-me que não consegue ter uma conversa com os colegas sobre questões internacionais, porque o conhecimento dos assuntos é zero. Só falam de carros, mulheres, copos, jogos de computador e desporto.
Não me admiro que não saibam onde fica o Iraque ou o Irão, porque, aquando da invasão do Iraque, eu vi na TV soldados americanos a serem entrevistados por uma cadeia de televisão que acompanhava a marcha a caminho de Bagdad, afirmarem que não sabiam porque razão estavam a invadir o Iraque.
O sistema americano necessita de muitos ignorantes para ter carne para alimentar a indústria da guerra. O pior, é que por causa da sua ignorância, andamos todos a pagar a factura da energia muito alta, andamos com receio de entrar num avião, no metro ou no autocarro.
Razão tinha o jurásico Fidel quando comentou a nomeação do Bush: "esperemos que não seja tão estúpido como parece".
Enviar um comentário