quinta-feira, agosto 24, 2006

(In)definições

Castelo de Kronoborg, Dinamarca (que serviu de inspiração para o Hamlet de W.S.)







Sabia que o dia começava com uma reunião. Depois de 1 mês, é tempo do Banji regressar a casa, pelo que o meu chefe marcou uma reunião para ver o "estado da coisa". Para mim era importante perceber se ele assumia o meu projecto a partir da Índia ou se ia trabalhar com o meu "apoio". Não gosto de "apoios", mas ainda gosto menos de tarefas mal definidas...
Desde que o despertador tocou, dei 572 voltas na cama, dizendo para o meu sub-consciente: "Banji...chefe..reunião...atrasado".
Engonhei, engonhei, engonhei....a minha preguiça atinge dimensões que eu próprio desconheço e depois, alguns minutos antes da reunião começar, resolvi levantar-me. Entre os meus defeitos, este será provavelmente o pior...não chego a horas a nada. Por vezes até acho que vou conseguir, mas há sempre qualquer coisa que não deixa. É como se o tempo parasse e eu assumisse que para mim, apenas para mim, o relógio deixa de funcionar. Eu faço coisas como combinar às 18h na Expo e 18.05h em Alcochete, e o pior é que por minutos ainda acho isso possível...
Despachei-me o mais rápido que consegui e pedalei com a força que as pernas me dispensaram. Só não queria chegar aqui a suar...não há nada pior que chegar com as costas molhadas e sentir aquele aconchego da cadeira, numa sala bem quentinha. De vez em quando levantava a camisola e deixava o ar (bem frescote por sinal!) percorrer o meu corpo. Tudo parecia correr bem, mas na última recta, sempre aquele última e fatídica recta entre a Volvo e a Saab, libertou-se o primeiro pingo. E quando isto acontece, não há nada a fazer. Os restantes pingos sentem-se confiantes e começam a imitar o primeiro, criando uma coreografia digna de parque aquático, com escorregas e afins. Cheguei molhadito, mas fui tão rápido que 10 minutos ainda me separavam do início da reunião. Fui para a casa de banho, levei a sempre fiel "courrier" e despi-me. Uns minutos a ler e o corpo a secar. "Menos mal", pensei. O meu suor cheira praticamente a água de rosas (até já pensei engarrafá-lo), pelo que fiquei "como novo".
Na dita reunião o meu chefe sugeriu um período de transição, em que eu devia funcionar como "alô teleseguro, aqui fala a Marta" para o Banji. Mais ou menos até ao Natal...Afinal o Natal não é sempre que um homem quer e vou ter que gramar com o "apoio" até Dezembro.
Todas esta situação causa em mim uma certa revolta. Quando aqui cheguei tive 1 semana para aprender tudo. O rapaz que na altura me explicou bebia 20 cafés por dia. A partir das 10 da manhã tinha um hálito impossível de suportar num raio de 1Km, pelo que me apressei a "esmifrar" toda a informação que consegui (será impressão minha ou estes gajos não gostam mesmo de água e sabão??).
O Banji está aqui há 1 mês e se eu não for perguntar como está tudo, ele também não se mexe para perguntar, esclarecer, compreender...Entra mais tarde, sai mais cedo e faz 30 pausas por dia com os restantes amigos da terra natal, que juntamente com as suas popas-anos-70-inspiradas-no-john-travolta-no-filme-Grease passeiam alegremente no "recreio". Depois de 1 mês de treino chegou uma situação real e eu pedi ao Banji para a fazer, como teste a tudo o que tinha aprendido. Passados dois dias, falando em linguagem de '0' e '1', continuava num "loop" sem conseguir dar um único passo. Claro que quando há uma falha de comunicação, ela pode ser do emissor, do receptor ou de ambos...mas sinceramente, eu não acho que ele se esforce minimamente e tenho consciência que expliquei tudo, o melhor que consegui. Não é que isso me chateie. Ele é que sentirá as dificuldades no futuro, mas quanto mais depressa me libertar deste projecto, mais rapidamente começarei outro...estar nos "intermédios" é que não me agrada e desmotiva-me bastante. Além do mais, não estou com vontade caso as dificuldades continuem, de ganhar uma viagem na Air Chamuça para ir dar "apoio" no local.
Vá Banji, dá lá corda aos sapatos e não me lixes!
Amanhã há uma nova reunião com o chefe, para definição de novos projectos. Esta já é uma música que me agrada dançar. Aposto que chego a horas...

2 comentários:

Rosa disse...

És, portanto, um "atrasado-selectivo"... :)

Tiago Franco disse...

Eu diria que sou mais um atrasado crónico :)