sexta-feira, agosto 18, 2006

Estou cansado

O meu pai costumava dizer-me: "nasceste cansado" dada a minha natural facilidade e até perícia para me sentar, arrastar os pés, encostar a qualquer parede e nunca tirar as mãos dos bolsos.
Embora isso seja verdade e engonhar se tenha tornado entretanto uma forma de arte, tenho-me sentido mais cansado do que é normal. "É da idade...já não tenho vida para isto", penso.
Trabalho desde os 24, tenho 29...pergunto-me se não estará na altura da reforma? Ou então, quem sabe se o Zé (Sócrates) não me arranja um tacho na Assembleia da República? Em termos de actividade seria mais descontraído do que uma reforma e ainda podia dormir calmamente como o resto da malta naqueles cadeirões, que pelo menos na tv parecem bastante confortáveis. Claro que em casa poderia desligar a tv quando as baboseiras ditas ultrapassassem as 10 por minuto, já "in loco" tudo seria diferente, uma vez que não tenho a opção "off" instalada nos ouvidos. Assim, sabendo eu de antemão que o Pedro (o Santana) resolveu voltar para o parlamento (para um tal PPD/PSD...), a probabilidade da minha doce reforma se transformar numa profissão de desgaste rápido tornar-se-ia real, pelo que não será essa a melhor escolha.
E autarca?? Eu acho que daria um bom autarca...podia ficar com o pelouro dos andaimes na câmara de Lisboa. Desde que nasci que os vejo aos milhares pela cidade, portanto deve, na minha opinião, existir alguém que se responsabilize por eles. Só pelos andaimes, nada mais! Não queria tratar das obras e afins, não, nada disso! Isso era coisa para dar muito trabalho! Tinha que escolher de que construtor civil queria receber luvas, tinha que receber uma casa em zona protegida, tinha que estar sempre a ouvir aquele gajo dos óculos da Quercus, tinha que discutir por tudo e por nada com o Sá Fernandes...não, isso também não era para mim!
Autarca talvez não seja a resposta. Reforma ou esperar por ela de uma forma descansada...é isso que eu quero!
Então e se fosse para "sombra de político" ? Isso é um cargo interessante...bastava vestir um fato azul com gravata amarela e usar aquele cabelo "acabei-de-sair-do-seminário-mas-acho-super-bem-esta-franjinha-em-cima-dos-olhos-igual-a-todos-os-meus-amigos-fofos". Depois era só aparecer atrás de um Paulo Portas numa conferência de imprensa e abanar a cabeça em sinal de aprovação (sempre a sorrir, esta parte é muito importante), sempre que ele respirar. Isto sim era tacho para estar descansado...mas por outro lado tinha que estar a 1m do P.Portas, o que me provoca arrepios só de imaginar. Depois o meu cabelo tem muitos caracóis para o referido penteado...bolas, também não dá!!
E comentador de bola??Epá...isso é que era!!! Eu gosto do desporto-rei, dificilmente seria imparcial (não quero ser original!!!) e acho que também consigo dizer: "Aí está Liedson, 26 anos, 1 metro e meio, 40Kg, nado e criado em terras de Vera Cruz, fã de Robert de Niro e de bóbó de camarão, ex-empacotador do Pão de Açucar...pára na coxa e cola na grama. Sente uma brisa e cai...penalty, sem margem para dúvida!!"...mas calma, depois teria que falar com os "expert" da bola como o Mozer e ouvi-lo dizer "simão sábõrósa", aguentar o Vitor Manuel e aquela voz de bagaço, ou aturar o Toni depois de 1L de rosé...huuummm...talvez não seja bem o que procuro...
Bom, não chego a nenhuma conclusão...
Reparo agora que são 3 da tarde, o que significa que a minha semana está feita. O Banji hoje não cheirava mal, o Neo-Zelandês não comeu a maçã e só arrotou de boca aberta duas vezes, pelo que foi um dia porreiro.
Como não me surgiu qualquer ideia para a reforma, voltarei 2f...até lá, bom fim-de-semana para todos.

Tiago

8 comentários:

Sandrinha disse...

"são 3 da tarde, o que significa que a minha semana está feita"... bem, acredito que estás cansado porque tu o dizes! Tens o resto da tarde e o fim de semana todinho para descansar...

Quando voltar de férias espero ter muitos escritos teus para ler... Maravilha!

Fica bem... e descansado!

Vivian disse...

3 da tarde hein? Fantástico!

Anónimo disse...

E q tal esperar pela reforma a cantar?... aposto q n te reformarias nunca! :))

Anónimo disse...

Bom fim de semana! :)

Tiago Franco disse...

Um pormenor importante...saí às 15h, mas entrei às 6, o que ultrapassa as 8h diárias (e aqui só me exigem 6h).
Não sou funcionário público :))
Boas férias para quem as está a começar :)

Diário de um Anjo disse...

Tás a precisar de férias:-)

Anónimo disse...

A reforma pressupõe pelo menos 40 anos de descontos para a Assistência Social e que o trabalhador tenha pelo menos 65 anos de vida. Segundo o Decreto Lei que regulamenta o direito à reforma, o trabalhador adquire 2% por ano de direitos de reforma, o que lhe dará, ao fim dos tais 40 anos de contribuições, 80% do valor médio dos melhores 10 anos dos últimos 15 de contribuições. Ou seja, a Assistência Social agarra nos vencimentos auferidos entre os 55 e os 65 anos, acha a média, aplica-lhe 80%, e está encontrada a reforma do contribuinte. Há excepções… como por exemplo para os deputados, administradores da CGD, GALP, Banco de Portugal, membros do governo, militares, magistrados, polícias, GNR, jogadores de futebol, bailarinos, e carreiras de desgaste rápido. Vivemos num Estado Social, e as nossas contribuições têm de ser encaradas como um contributo para o todo nacional, pois grande parte das pessoas não teriam condições de ter uma Assistência Social condigna se dependessem apenas do valor das suas contribuições. Podemos dizer que este sistema de Assistência Social, apesar de não ser perfeito, é muito melhor e mais justo do que o sistema americano que assiste o cidadão em função do tipo de seguro que cada um tem.

Para que a Assistência Social tenha dinheiro para alimentar este sistema, é fundamental a entrada de contribuintes que irão descontar e compensar aqueles que se reformaram e já não contribuem. O facto das novas gerações entrarem no mercado de trabalho mais tarde, associado a um maior aumento da esperança de vida das pessoas, criou um fosso financeiro que urge resolver. É claro que as soluções encontradas pelos governantes não agradam a ninguém, mas há necessidade de efectuar um debate nacional para consciencialização e para bem de todos.

Todo este parlapié foi para te dizer que ainda tens pelo menos mais 35 anos de carreira contributiva para atingires o tal desiderato, considerando que as actuais regras para a passagem à reforma se mantêm, o que não acredito. Pelo andar da carruagem, vislumbram-se tempos mais complicados para as novas gerações de contribuintes, com a forte possibilidade de um aumento da carreira contributiva e ainda um aumento da idade de reforma.

Então que fazer? Como percorrer esta estrada sem entrar em desespero?

Pela minha experiência, permito-me aconselhar que é preciso inteligência, flexibilidade, capacidade de análise e antecipação, ter humildade, não ser muito impaciente, e ser minimamente entendedor da psicologia dos homens, para efectuar este percurso sem grandes tropeções.
É fundamental fazer o percurso sem preocupação da distância a que se encontra o objectivo.

Vais ver que até nem é difícil, que tudo tem o seu encanto, que todos os desafios poderão ser proveitosos, que a vida apesar de tudo é maravilhosa.

Outra questão interessante é constatar que o desejo de reforma é inversamente proporcional à idade. Tenho verificado pelos meus colegas que, chegada a hora da reforma, nem sempre a encaram com satisfação. Há até casos de alguns, que já tinham mais de 70 anos, idade obrigatória de reforma, e que ainda tentaram permanecer no serviço. O colega Costa depois de atingir os 70 anos, já reformado, continuou a apresentar-se ao serviço durante mais de um mês, porque não conseguia interiorizar que estava reformado. O Zé Rodrigues e o João Maia, têm 69 anos, continuam nos turnos e continuariam a trabalhar depois dos 70 se a empresa o permitisse.  
Eu, já tive mais vontade de me reformar. Hoje aceitaria um sistema de Pré-Reforma que me ocupasse parcialmente o tempo e me permitisse dedicar a outras actividades. Quando chegar a minha hora de abandonar a actividade profissional, não sei o que vai acontecer, mas vou de certeza andar deprimido por algum tempo, pois abandonar a minha actividade sindical não vai ser fácil. As Assembleias Gerais e os Processos Negociais  vão-me deixar saudades.

É assim, só desejamos o que não temos, e só damos valor às coisas quando as perdemos.

O Homem é mesmo complexo.

Tiago Franco disse...

Eu tenho consciência,de que "somos" cada vez menos a suportar o sistema de segurança social e que os tempos que se avizinham para a minha geração não são fáceis.
Eu até acho que, vendo a sociedade como um todo, cada um de nós deve contribuir com o seu trabalho, para o desenvolvimento da mesma. Uma pessoa que trabalha é alguém que contribui e sinceramente, só isso já me deixa satisfeito.
Mas, e aqui é que reside o problema, trabalhar cansa, como diz o meu avô! Além disso, trabalhar 11 meses por ano deixa muito pouco tempo para fazer as coisas realmente boas da vida. Por outro lado, não trabalhar não permite o "incoming" (como se diz agora) de dinheiro. Vil metal este, cuja ausência nos prende os pés e mãos. Neste momento tenho uma série de planos, sonhos e destinos por cumprir e dava jeito ter pelo menos 6 meses de férias por ano :) Eu até não me importava de trabalhar até aos 80 anos, se pudesse estar "descansado" até aos 45. Usava a idade actual para passear e quando fosse mais velho, logo descansaria no emprego :)O que é que eu ia fazer com 80 anos para as escadarias da torre de Pisa???
Acabei de falar com um colega que regressou de 5 semanas de férias. Dizia-me ele que antes só tirava 4, mas chegava aqui e não se sentia descansado...5 semanas permitem-lhe o repouso total e acha que foi a melhor opção que tomou. Obrigado...